Linguagem Fotográfica
A linguagem fotográfica se
confunde um pouco com composição, pois há elementos em comum. Mas
está um degrau acima, com um olhar mais artístico em relação à imagem
produzida. O efeito de linguagem pode ser obtido com elementos como sombra, textura, linha, grafismo e cor,
além de recursos técnicos aplicados à criação artística, como foco,
velocidade e corte.
Os elementos são vistos e encontrados
na natureza, na arquitetura e em todas as coisas produzidas pelo homem. Desde
uma bela paisagem até um simples garfo podem ser matéria para uma foto
inspirada. No caso dos recursos técnicos aplicados à linguagem, são os
oferecidos pelo equipamento fotográfico. Por isso, é fundamental ter intimidade
com a câmera para tirar proveito deles.
O foco e a profundidade de campo, por
exemplo, servem para dar maior nitidez ao primeiro plano ou ao objeto principal
da composição. Mas também são aliados fantásticos para fugir da "poluição
visual" que muitas vezes estraga uma boa foto.
A velocidade é outro recurso
importantíssimo - mas pode ser o mais difícil de ser usado, além de exigir
maior concentração. Com o controle da velocidade da câmera pode-se "congelar"
uma imagem ou criar um "efeito de movimento". Já o corte nada
mais é do que a forma de trabalhar o enquadramento. Um corte mais arrojado pode
tirar um retrato facilmente do lugar comum. Veja a seguir 10 sugestões
sobre o tema:
1 - Sombra
Em algumas situações pode ser um
problema, como nos retratos quando há sombra no rosto do fotografado. Porém,
este elemento se mostra um magnífico aliado para a criatividade.
Pode-se enriquecer uma foto de uma árvore com a sombra de seus galhos projetada
sobre o asfalto ou uma janela com a sombra de grades, criando um efeito gráfico
interessante. A incidência de luz"dura" (como a do sol,
principalmente das 10h às 15h) favorece a presença de sombras, criando a
dramaticidade característica deste tipo de elemento de linguagem.
Uma luz por trás do assunto ou objeto
pode criar uma contraluz proposital que dê a impressão de um clima mais denso
para a imagem. Pode-se usar tochas de iluminação de forma a criar uma luz mais
agressiva. A sombra é, sem dúvida, um elemento importantíssimo para dar ao
trabalho um aspecto psicológico mais ou menos "carregado" ou
com maior ou menor "força" dramática.
2 - Grafismo
Linhas, sombras, curvas, cor... Estes
elementos, em conjunto ou isoladamente, criam um efeito por vezes abstrato e
plástico que despertam a atenção do olhar. Muitas vezes não se identifica de
imediato o que se vê, criando-se uma situação misteriosa e forte. Há inúmeras
possibilidades de criação usando-se a linguagem do grafismo. O detalhe da
sombra de uma grade sobre uma superfície de textura diversificada, como na foto
do exemplo, é uma das muitas formas de compor com grafismo.
O fotógrafo que se aventura a este
tipo de fotografia deve ter muita atenção a detalhes arquitetônicos. O grafismo
pode ser buscado tanto numa pequena textura com a ajuda de um filtro close up
como num elemento distante, utilizando-se a teleobjetiva. Até a "poluição"
visual urbana pode ser usada a favor da criatividade.
3 - Cor
A cor funciona muito com um bom
contraste entre o fundo e o elemento principal. Implica em saber utilizar a
principal regra de composição, a de simplicidade. Nela, o que interessa é criar
uma imagem com poucos elementos, limpa e sem poluição visual. É muito
importante saber escolher o tema e trabalhar os detalhes. Fundamental também é
fazer a revelação num bom laboratório, para que a cor não seja "falseada"
na hora de ver os resultados.
O fotógrafo deve "sentir"
a cor no momento do enquadramento, perceber o contraste e saber combinar cores
"frias" (verde, violeta, azul, roxo, celeste e cinza) e
as "quentes" (vermelho, amarelo, marrom, laranja...). É
importante fugir do excesso para que a imagem seja equilibrada e não um
carnaval de cores. Em alguns casos, recomenda-se o uso do filtro polarizador
para evitar reflexos indesejáveis e para ressaltar a força e luminosidade das
cores.
4 - Reflexo
Nesta foto, vê-se o reflexo num
riacho, próximo a um castelo. Se a imagem for virada ao contrário, por um
momento pode-se achar que está na posição certa. A luz cristalina de um final
de tarde de outono empresta à foto uma tonalidade excepcional, que cria a sensação
de que a torre se vê num espelho. A luz "dura" também é
favorável ao trabalho com reflexos, que pode ser encontrado em mais coisas do
que podemos imaginar, como vidros, vitrines, janelas, latarias, poças d'água,
lagoas, prataria... Seu uso serve para criar boas e insólitas
composições.
5 - Textura
Troncos, paredes, paralelepípedos,
tijolos de barro, ferrovias, fábricas abandonadas, vagões enferrujados,
maçanetas... Há uma infinidade de interessantes tipos de texturas que, com um
bom contraste, podem criar uma temática de grande plasticidade. É importante
valorizar todos os detalhes, sabendo se posicionar em relação ao elemento a ser
fotografado. A qualidade da luz é importantíssima para fotografar textura, pois
é ela que vai dar relevância e nitidez.
Também a luz "dura"
é um pouco mais recomendável para se trabalhar com textura. Mas não é
imprescindível, como no caso da sombra. Uma luz média, na lateral, que incida
sem "violência" sobre o objeto fotografado, pode ser até
melhor vinda que uma luz "chapada", que tira da superfície as
nuances ou médios tons - que no caso da textura, são muito importantes. Por
isso, não é recomendável usar flash. Mas supondo que haja necessidade numa emergência,
a luz deve ser rebatida e com cuidado de criar um bom contraste. Como na
textura é importante trabalhar detalhes, é muito útil uma lente de aproximação,
como os filtros close up + 2 e + 3.
6 - Linha
A linha é um referencial importante
para trabalhar o espaço e conferir equilíbrio a uma foto. A arquitetura em
geral, as linhas de uma rua, palmeiras, um grupo de cadeiras enfileiradas, uma
grade... enfim. Há muitas possibilidades de se encontrar esse elemento de
linguagem. Portanto, antes de apertar o botão de disparo, deve-se cuidar do
enquadramento, feito com cuidado e criatividade.
A linha pode ser usada para dividir
ou "cortar" uma imagem. Uma janela, uma porta, a linha do
horizonte, o tronco de uma árvore... Linhas verticais ou linhas horizontais
surgem como opções para várias situações. Em geral, a divisão com linhas
verticais indica ação, ritmo, a intenção próximo-distante. Já o uso das linhas
horizontais denotam repouso, tranquilidade, frieza, a divisão céu-terra. E as diagonais
insinuam dinamismo, tensão.
7 - Corte
Uma boa definição de corte numa foto
seria dizer que é a opção de enquadramento para criar imagens fora dos padrões
consagrados. O corte, hoje, é uma tendência mundial. Muito usado em fotografias
de moda, em retratos mais ousados, é fundamental para fugir do lugar-comum e,
às vezes, para criar uma perspectiva dramática ou dar maior força a uma imagem.
O corte está intimamente ligado ao que foi colocado em relação à linha: um
corte vertical cria uma intenção ou sugestão de agressividade e "calor";
um corte horizontal insinua uma tendência de tranqüilidade e paz.
Aparentemente "fácil"
de usar, é o que mais expressa a evolução dos fotógrafos. O suíço Robert Frank,
o húngaro André Kertész, os americanos Garry Winogrand e Lee Friedlander, além
dos brasileiros Maureen Bisilliat ou Mário Cravo Neto, são alguns de uma longa
lista de importantes fotógrafos que se tornaram exemplos consagrados de
excelente uso deste recurso.
8 - Foco
Manejar corretamente o foco é
essencial para destacar um assunto e isolá-lo de um fundo confuso, com
elementos indesejáveis. Outra vantagem é a da própria estética. Em muitas
ocasiões, pode-se arranjar melhor os elementos com a ajuda de uma boa
focalização. Macrofotografia, paisagem, arquitetura e, principalmente, o
retrato funcionam muito bem com o foco aplicado à linguagem. Há um exercício
interessante que consiste em colocar alguém (ou alguma coisa) numa certa
distância de uma outra. Fotografar o assunto em primeiro plano e, depois, o que
estiver no fundo. Desta forma surge uma nova perspectiva para o uso do foco,
que deve ser utilizado como aliado na concepção de um trabalho fotográfico.
Deve-se usar a câmera no modo manual
para um melhor aprendizado de controle de foco, algo que não acontece com o
autofocus. Na foto do exemplo,vê-se o uso de pouca profundidade de campo - ou
seja, um ou poucos elementos ficam focalizados para criar uma sensação de
glamour e mistério. Em fotos em que todos os elementos se encontram focalizados
é onde há uma boa ou ótima profundidade de campo. A profundidade de campo é
maior quanto menor for a abertura do diafragma (f/22, f/16, e f/11, por
exemplo). O contrário acontece quanto maior for a abertura (f/2, f/2.8 e
f/4).
9 - Congelamento
Uma corrida de cavalos, um jogo de
futebol, um campeonato de skate, uma cena de tourada, um Grande Prêmio de F1...
Estas são situações em que para evitar fotos "tremidas" usa-se
a fórmula que, em linguagem fotográfica, é chamada de efeito de "congelar".
Para conseguir isso, utiliza-se velocidades altas (acima de 1/250). Mas
é fundamental ter muito cuidado com a fotometria.
Na composição da imagem o fotógrafo
deve se comportar como um caçador à espera da caça, ou seja, o momento certo de
disparar e "congelar" uma boa cena. O foco, de preferência,
deve ser feito manualmente, acompanhando a cena ou antecipando-se a ela - como
pré-focalizar o ponto exato da curva onde o carro vai passar em alta
velocidade. As teleobjetivas a acima de 200 mm e os filmes rápidos (acima de
ISO 400) são os ideais para essa linguagem.
10 - Efeito de
movimento
O efeito de movimento é a outra face
do efeito de "congelar". Se na foto com a cena congelada vale
mais a informação (como é o carro, o cavalo, o jogador, o lance...), no
movimento o que importa é o efeito artístico, agradável ao olhar. A foto do
exemplo apenas sugere, sem mostrar tudo. Por outro lado, há informação o
suficiente para o que interessa.
Do ponto de vista de dificuldades
técnicas, talvez seja o mais difícil de conseguir. Usam-se velocidades baixas,
(menor que 1/60s), variável de acordo com a velocidade do objeto a ser
fotografado. Uma menina numa bicicleta não tem a mesma dinâmica que um jóquei
num puro-sangue... Também aqui se aplica a regra de "caçador de imagens".
É bom esperar, com calma, o momento certo para disparar. Um bom treino é
registrar assuntos não tão velozes, como pessoas fazendo cooper, andando de
patins ou de bicicleta.
Disponível em: http://fotografeumaideia.com.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=1637&Itemid=138
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